Por Nancy Cardoso Pereira
A SBB (sociedade bíblica do brasil) vende cerca de seis milhões de “Bíblias” por ano, ao preço médio de R$ 10... são produzidas 30 mil Bíblias por dia... A SBB lança 40 títulos inéditos por ano: a “Bíblia da Família”, a “Bíblia da Mulher” e a “Bíblia do Surfista”.
MAS ... de quantas Bíblias uma pessoa precisa? quem compra tanta bíblia? então é que a Bíblia virou objeto de consumo, mercadoria... O capitalismo "coisou" a bíblia. Assim "coisificada" a coisa ficou assim: (M de mercadoria.... D de dinheiro)
Marx na seção 2 do livro 1 do Kapital já antecipava a bíblia nas trocas ordinárias entre isso e aquilo!!
M — D. Primeira metamorfose da mercadoria ou venda. O salto do valor da mercadoria do corpo da mercadoria para o corpo do ouro é, como o digo noutro local, o "salto mortale" da mercadoria.
Marx vai explicar esta primeira metamorfose falando de um tecelão que troca seu linho por dinheiro (2 lb) e por este valor compra uma Bíblia (2lb)... Mas o vendedor da Bíblia converte as 2 lib. esterl. entregues pelo tecelão em aguardente (tecido de linho — dinheiro — Bíblia), é simultaneamente (Bíblia — dinheiro — aguardente). A metamorfose total de uma mercadoria, na sua forma mais simples, supõe quatro extremos e três personae dramatis... O tecelão só pode vender tecido de linho porque o camponês já vendeu trigo, o outro só pode vender a Bíblia porque o tecelão já vendeu o tecido de linho, o destilador só pode vender a aguardente porque o outro já vendeu a água da vida eterna, etc.
P. ex., na metamorfose total do tecido de linho:tecido de linho — dinheiro — Bíblia, primeiro sai da circulação o tecido de linho, o dinheiro entra para o seu lugar, depois sai da circulação a Bíblia, o dinheiro entra para o seu lugar. A substituição de mercadoria por mercadoria deixa simultaneamente a mercadoria-dinheiro numa terceira mão. A circulação produz constantemente dinheiro.
E assim enxugando a prosa... passa bíblia pra lá! corre dinheiro pra cá! entre isso e aquilo "a coisa" desaparece nas trocas e fica... o dinheiro!
Muito bem! Muito bem! o mercado de bens religiosos NÃO é de modo algum uma forma de evangelização, de missão e outra qualquer bobice pra enganar @s trouxas. É mesmo um modo de lavagem de dinheiro... isto é, de legitimar a fazeção de lucro do sacronegócio.
A religião é hoje uma das formas mais apuradas de lavagem de dinheiro... é corrupção sofisticada: os objetos das transações "espirituais" escondem as transações de valor e a circulação de dinheiro fazendo dinheiro.
É a transubstanciação dos objetos de fé em objetos de lucro... diante dos nossos olhos as igrejas (todas! porque todas operam dentro do sistema!) dominicalmente substituem os modos de fé e suas coisas em mercadoria... e simultaneamente em dinheiro.
Acontece assim com a bíblia, acontece assim com o que chamam de "louvor" e suas bandas, cds e shows, acontece assim com a imobiliária dos templos, as agências de turismo de arqueologia disneylândia, as camisetas e apetrechos.
Marx de novo:
O dinheiro afasta constantemente as mercadorias da esfera da circulação, na medida em que entra constantemente para o lugar de circulação delas, afastando-se desse modo do seu próprio ponto de partida. Assim, embora o movimento de dinheiro seja apenas expressão da circulação de mercadorias, a circulação de mercadorias aparece, inversamente, apenas como resultado do movimento de dinheiro.
Não é à toa que Marx usa o exemplo da Bíblia entre tantos outros objetos possíveis. O capitalismo exige o controle de mecanismos rituais de produção de valor que escapam da razão ... e que vão ser operados pela fé: do mercado, no mercado. O lucro: amém! Nada mais metafísico do que os processos de produção do preço, os processos de definição de valor. Têm e não têm referente no mundo das trocas... fica sempre um que de transcedência na operação final
O papel-moeda é signo de ouro ou signo de dinheiro. A sua relação com os valores das mercadorias consiste apenas em que estes estão idealmente expressos nos mesmos quanta de ouro que são manifestados simbólica e sensivelmente por papel. Só na medida em que o papel-moeda representa quanta de ouro, que, como todos os outros quanta de mercadorias, são também quanta de valor, é que ele é signo de valor.
Sim sim! não estamos mais nos tempos do padrão-ouro... o dólar é agora o padrão... ou suas flutuações no mercado das commodities. Pois saímos do antigo para o novo testamento. ( http://cosif.com.br/publica.asp?arquivo=20130206dolar-ouro)
Marx coloca a bíblia na ciranda das mercadorias porque é exatamente aí que - nas condições e contradições do capitalismo - que as coisas da religião circulam: mercadoria.
Colocar a bíbla na cesta básica seria uma saída honrosa! "Minha bíblia, minha vida" seria um programa decente! e, de todos os modos, o "bolsa bíblia" já existe de um modo ou de outro... a isenção de impostos das igrejas nada mais é! O cristianismo biblicista está sequestrado pelo mercado. A bíblia nunca foi tão importante... e não tem importância nenhuma. Citada! Cantada! Grafitada! Gritada! Imposta! Em-praçada! Em-capada! Em-toada!
Não vale nada... porque saiu do circuito da necessidade para entrar - gloriosa - no valor de troca!
Resiste ainda na leitura vivida e underground, rés-do-chão da resistência da vida do povo: rap, reza, festa e poesia atirada na cara dos opressores.
Fora isso... se você quer um lâmina afiada, de dois gumes que penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração (hebreus 4, 12)... é melhor comprar uma gilete!
Nancy Cardoso Pereira é pastora metodista, graduada em Teologia e Filosofia, mestra e doutora em Ciências da Religião, com pós-doutorado em História Antiga. É membro do conselho editorial da Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana (RIBLA) e agente da Comissão Pastoral da Terra. É mãe de Clarissa e Daniel.
A SBB (sociedade bíblica do brasil) vende cerca de seis milhões de “Bíblias” por ano, ao preço médio de R$ 10... são produzidas 30 mil Bíblias por dia... A SBB lança 40 títulos inéditos por ano: a “Bíblia da Família”, a “Bíblia da Mulher” e a “Bíblia do Surfista”.
MAS ... de quantas Bíblias uma pessoa precisa? quem compra tanta bíblia? então é que a Bíblia virou objeto de consumo, mercadoria... O capitalismo "coisou" a bíblia. Assim "coisificada" a coisa ficou assim: (M de mercadoria.... D de dinheiro)
Marx na seção 2 do livro 1 do Kapital já antecipava a bíblia nas trocas ordinárias entre isso e aquilo!!
M — D. Primeira metamorfose da mercadoria ou venda. O salto do valor da mercadoria do corpo da mercadoria para o corpo do ouro é, como o digo noutro local, o "salto mortale" da mercadoria.
Marx vai explicar esta primeira metamorfose falando de um tecelão que troca seu linho por dinheiro (2 lb) e por este valor compra uma Bíblia (2lb)... Mas o vendedor da Bíblia converte as 2 lib. esterl. entregues pelo tecelão em aguardente (tecido de linho — dinheiro — Bíblia), é simultaneamente (Bíblia — dinheiro — aguardente). A metamorfose total de uma mercadoria, na sua forma mais simples, supõe quatro extremos e três personae dramatis... O tecelão só pode vender tecido de linho porque o camponês já vendeu trigo, o outro só pode vender a Bíblia porque o tecelão já vendeu o tecido de linho, o destilador só pode vender a aguardente porque o outro já vendeu a água da vida eterna, etc.
P. ex., na metamorfose total do tecido de linho:tecido de linho — dinheiro — Bíblia, primeiro sai da circulação o tecido de linho, o dinheiro entra para o seu lugar, depois sai da circulação a Bíblia, o dinheiro entra para o seu lugar. A substituição de mercadoria por mercadoria deixa simultaneamente a mercadoria-dinheiro numa terceira mão. A circulação produz constantemente dinheiro.
E assim enxugando a prosa... passa bíblia pra lá! corre dinheiro pra cá! entre isso e aquilo "a coisa" desaparece nas trocas e fica... o dinheiro!
Muito bem! Muito bem! o mercado de bens religiosos NÃO é de modo algum uma forma de evangelização, de missão e outra qualquer bobice pra enganar @s trouxas. É mesmo um modo de lavagem de dinheiro... isto é, de legitimar a fazeção de lucro do sacronegócio.
A religião é hoje uma das formas mais apuradas de lavagem de dinheiro... é corrupção sofisticada: os objetos das transações "espirituais" escondem as transações de valor e a circulação de dinheiro fazendo dinheiro.
É a transubstanciação dos objetos de fé em objetos de lucro... diante dos nossos olhos as igrejas (todas! porque todas operam dentro do sistema!) dominicalmente substituem os modos de fé e suas coisas em mercadoria... e simultaneamente em dinheiro.
Acontece assim com a bíblia, acontece assim com o que chamam de "louvor" e suas bandas, cds e shows, acontece assim com a imobiliária dos templos, as agências de turismo de arqueologia disneylândia, as camisetas e apetrechos.
Marx de novo:
O dinheiro afasta constantemente as mercadorias da esfera da circulação, na medida em que entra constantemente para o lugar de circulação delas, afastando-se desse modo do seu próprio ponto de partida. Assim, embora o movimento de dinheiro seja apenas expressão da circulação de mercadorias, a circulação de mercadorias aparece, inversamente, apenas como resultado do movimento de dinheiro.
Não é à toa que Marx usa o exemplo da Bíblia entre tantos outros objetos possíveis. O capitalismo exige o controle de mecanismos rituais de produção de valor que escapam da razão ... e que vão ser operados pela fé: do mercado, no mercado. O lucro: amém! Nada mais metafísico do que os processos de produção do preço, os processos de definição de valor. Têm e não têm referente no mundo das trocas... fica sempre um que de transcedência na operação final
O papel-moeda é signo de ouro ou signo de dinheiro. A sua relação com os valores das mercadorias consiste apenas em que estes estão idealmente expressos nos mesmos quanta de ouro que são manifestados simbólica e sensivelmente por papel. Só na medida em que o papel-moeda representa quanta de ouro, que, como todos os outros quanta de mercadorias, são também quanta de valor, é que ele é signo de valor.
Sim sim! não estamos mais nos tempos do padrão-ouro... o dólar é agora o padrão... ou suas flutuações no mercado das commodities. Pois saímos do antigo para o novo testamento. ( http://cosif.com.br/publica.asp?arquivo=20130206dolar-ouro)
Marx coloca a bíblia na ciranda das mercadorias porque é exatamente aí que - nas condições e contradições do capitalismo - que as coisas da religião circulam: mercadoria.
Colocar a bíbla na cesta básica seria uma saída honrosa! "Minha bíblia, minha vida" seria um programa decente! e, de todos os modos, o "bolsa bíblia" já existe de um modo ou de outro... a isenção de impostos das igrejas nada mais é! O cristianismo biblicista está sequestrado pelo mercado. A bíblia nunca foi tão importante... e não tem importância nenhuma. Citada! Cantada! Grafitada! Gritada! Imposta! Em-praçada! Em-capada! Em-toada!
Não vale nada... porque saiu do circuito da necessidade para entrar - gloriosa - no valor de troca!
Resiste ainda na leitura vivida e underground, rés-do-chão da resistência da vida do povo: rap, reza, festa e poesia atirada na cara dos opressores.
Fora isso... se você quer um lâmina afiada, de dois gumes que penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração (hebreus 4, 12)... é melhor comprar uma gilete!
Nancy Cardoso Pereira é pastora metodista, graduada em Teologia e Filosofia, mestra e doutora em Ciências da Religião, com pós-doutorado em História Antiga. É membro do conselho editorial da Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana (RIBLA) e agente da Comissão Pastoral da Terra. É mãe de Clarissa e Daniel.