A relação entre religião e política é um fenômeno que marca
o momento atual da política brasileira, em que os evangélicos se colocam com
destaque na arena como um bloco organicamente articulado: não são mais “os
crentes” ou os grupos fechados de outrora. A separação social, “do mundo”,
deixa de ser um valor evangélico da tradição fundamentalista-puritana: eles são
hoje um grupo que desenvolve a cultura “da vida normal” combinada com a
religião com presença nas mídias, artistas e celebridades, moda própria, inserção
no mundo do mercado e do entretenimento. Além disso, este segmento se vê
fortalecido como parcela social que tem suas próprias reivindicações e
interesses e pode eleger seus próprios representantes para os espaços de poder
público. Qual o lugar das mídias neste processo de afirmação? Entre os muitos
olhares, percebe-se que o ativismo digital evangélico emerge como um novo
fenômeno neste processo e o livro “Do púlpito às mídias sociais. Evangélicos na
política e ativismo digital”, da Profa. Magali do Nascimento Cunha, é uma contribuição para a sua avaliação.
A obra, dividida em três capítulos, resulta da pesquisa
empreendia pela autora, durante estágio pós-doutoral realizado na Universidade Federal da Bahia, em 2016. O campo de estudos privilegia a relação entre
mídia, religião e política sob a ótica das transformações culturais que têm
sido vivenciadas pelo segmento evangélico, em especial a partir dos anos 1990.
O primeiro capítulo traz uma visão dos estudos que analisam a presença dos
evangélicos no Brasil desde a chegada dos primeiros missionários no século 19 e
a construção da identidade do grupo em meio ao extenso mosaico formado pela
diversidade de dinâmicas religiosas no País. A relação com as mídias e com a
política é destaque nesta parte do texto, que procura apresentar uma síntese
das principais abordagens das diferentes ciências que se debruçam sobre o
fenômeno, incluindo trabalhos da própria autora. Já o segundo capítulo
apresenta a relação entre mídia, religião e política na segunda década do
século 21, com ênfase na atuação da Bancada Evangélica no Congresso Nacional e
na crescente presença de lideranças do segmento religioso em debates e
campanhas frente às pautas políticas do seu interesse. O terceiro capítulo
fecha o livro com a novidade que emerge dos estudos deste tema: a emergência do
ativismo digital evangélico. Por meio de pesquisa no Facebook e no Twitter,
duas das mais populares mídias sociais acessadas por brasileiros, a autora
levantou os perfis mais atuantes entre ativistas digitais evangélicos e traçou
um quadro com suas características em termos de influência nas mídias.
O livro acaba de ser publicado pela Editora Prismas (Coleção Mídia, Religião e Cultura) e será lançado em dois eventos: no Poscom-UMESP em 28 de agosto, e no Centro de Formação e Pesquisa do SESC, em 27 de setembro. Um pré-lançamento acontece no próximo 19 de junho, com transmissão ao vivo pelo Facebook.
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